A Importância Do Enólogo Para O Negócio Vitivinícola

Martin Ricardo Schulz

martin@marsconsultoria.com.br

Foram duas noites de mobilização. Uns trinta enólogos de Flores da Cunha e uns outros trinta de Bento Gonçalves e demais regiões. A categoria profissional experimentou, de forma inédita, a discussão acerta da importância do enólogo para o negócio vitivinícola, em palestras com o mesmo título, por mim ministradas pela corajosa iniciativa da ABE – Associação Brasileira de Enologia. Sem dúvidas, a classe foi representada de forma abrangente e consistente, mais ainda devido ao fato de que toda a categoria engloba algumas centenas de profissionais em todo o Brasil.

 

Fizemos um amplo passeio pelos meandros desta profissão tão intrigante, através de quatro óticas distintas. Começamos conceituando as atribuições de um enólogo e de todas as funções contempladas na sua formação profissional. Não foram esquecidas as tarefas da prática enológica, talvez as mais importantes para o bom desempenho profissional. Na seqüência, abordamos como são preparados os enólogos no Chile, Argentina, Uruguai e no Brasil. Na ótica legal, foi discutida a lei que regulamenta esta profissão, quando analisamos o retrato do segmento na geografia brasileira, através das muitas regiões em que enólogos são filiados à Associação Brasileira de Enologia – ABE. Dois perfis de enólogos deram a tônica das discussões: em Flores da Cunha, o foco principal da profissão é a elaboração de vinhos de mesa e sucos, enquanto que para os profissionais em Bento Gonçalves, o foco é a elaboração de vinhos finos. Esta diversidade permitiu que as palestras fossem temperadas de forma participativa. Não poderíamos deixar de analisar também a composição mundial da categoria, representada globalmente pela UIOE – União Internacional de Enólogos.
 
Quando avaliamos conjuntamente a cadeia de fornecimento vitivinícola, as discussões foram centradas na abordagem mais "filosófica" da profissão, e talvez a mais importante, em que a correta preparação e condução dos vinhedos determina a qualidade futura do produto final. Entretanto, tudo isso não seria suficiente sem a tecnologia envolvida na elaboração de vinhos e sucos, atributo sem o qual os enólogos não conseguiriam consolidar suas criações ou superar a si mesmos. Mas o mais importante ainda estava por ser discutido: o momento da verdade, em que os consumidores entram em contato com o produto final e julgam sua aceitação pelo mercado. Embora esta seja uma profissão invejada por muitos, pois seu desempenho passa por metodologias próprias e culmina num produto que é um pretexto a momentos de alegria e prazer, a exigência sobre o conhecimento de cada enólogo está ficando insustentável. Isso ocorre porque todo o setor vitivinícola foi submetido nos últimos dez anos a uma profissionalização forçada. Não esqueçam que estamos no novo mundo vinícola.
 
Neste cenário, o enólogo passou a exercer mais papéis no negócio vitivinícola, fazendo com que este profissional esteja envolvido com rotinas operacionais para as quais não foi preparado, ocasionando um gargalo técnico; cito as atividades administrativas e comerciais como as que mais apareceram nas discussões. Portanto, precisamos nos preparar, mas não podemos descuidar do aspecto mercadológico, pois dele depende qualquer vinícola. Afinal, as atividades de uma empresa deste segmento acontecem para que o produto final seja vendido. Pois bem, aqui nos detivemos em analisar como os enólogos devem fazer a gestão das marcas que representam e como devem desenvolver o marketing vinícola. Logicamente foi necessário olharmos cuidadosamente um painel de consumo no Brasil e no mundo. Interessante frisar que fizemos um comparativo mundial entre os volumes de exportação e de importação de vinhos em cada região produtora e concluir que o mercado está em expansão. Mais na América do Sul do que na Europa ou Oceania. Isso torna urgente que a classe se mobilize, como aconteceu, para preparar-se um pouco mais nestes temas de mercado.
 
Faltava ainda abordarmos a ótica da gestão do negócio vitivinícola, terreno talvez mais delicado para manter discussões. Aqui, parecia que tínhamos colocado pimenta nos (excelentes) jantares que viriam logo a seguir. Confesso que fiquei preocupado, pois estes profissionais precisam de mais respaldo, se analisarmos a importância da sua atividade no negócio. Para dar sustento a esta visão particular, montei uma estrutura de Valor Agregado de uma vinícola, para que todos pudéssemos visualizar o que é tangível e intangível no gerenciamento de uma empresa do setor.
 
Terminamos as palestras compartilhando uma provocação minha: a de que os enólogos administradores / gerentes de vendas / gerentes de marketing ou gerentes-gerais presentes mobilizem-se em fortalecer a imagem do vinho brasileiro como vinho fácil, que pode ser harmonizado com tudo. Precisávamos colocar isso tudo em prática e fomos à mesa. Se for como foi nesta celebração, o vinho nacional será inigualável.

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